domingo, 11 de novembro de 2012

Orlando Silva - Sertaneja (1939)

Na casa branca da serra - Carlos Galhardo

1946 - Vicente Celestino - Porta Aberta

Saudades de mamãe!

Essa canção é uma das que mamãe gostava muito.
Sempre que a ouvir vou sentir uma saudade imensa!
Uma outra é Porta Aberta de Vicente Celestino e outras mais
como Sertaneja que postarei depois.

Na Casa Branca da Serra
De Paraguassu.

Na casa branca da serra
Que eu fitava horas inteiras
Entre as esbeltas palmeiras
Ficaste calma e feliz
Ai teu peito me deste
Quando pisei tua terra
Ai de mim te esqueceste
Quando eu deixei meu país
Nunca te visse eu formosa
Nunca contigo falasse
Antes nunca te encontrasse
Na minha vida enganosa
Por que não se abriu a terra?

Por que os céus não me puniram?
Quando meus olhos te viram
Na casa branca da serra.

Porta Aberta
Vicente Celestino

Vinha por este mundo sem um teto
Dormia as noites num banco tosco de jardim
Sem ter a proteção de um afeto
Todas as portas estavam fechadas para mim...
Mas Deus, que tudo vê e nos consola
Em seu sagrado Templo me acolheu
E, além de me ofertar aquela esmola
Meu destino transformou
Meu sofrimento acabou
E a minha vida renasceu...
Porta aberta
Tendo o emblema de uma cruz
Essa porta não se fecha
Contra ela não há queixa
São os braços de Jesus
Porta aberta
Por Jesus de Nazaré
Desvendou-me o bom caminho
Hoje é meu doce ninho
Novamente deu-me a fé
Porta aberta
Já não vivo mais ao léu
Porta aberta
Ao transpor-te entrei no céu
Porta aberta
Nunca mais hei de esquecer
Que és na terra minha luz
És o bem que me conduz
Desde o berço até morrer!

domingo, 28 de outubro de 2012

A Cheia de 1950.

      Essa é uma história que só poderei contar baseada em pesquisa. De memória o que guardo da cheia de 50 é muito pouco. Lembro que quando fomos pra Serra o rio já estava cheio de barreira a barreira. Fomos até a beira do rio e lá ficamos numa casa que tinha na margem do lado de cá. Papai foi primeiro atravessar o gado junto com alguns outros homens. O gado atravessou a nado. Os homens iam junto na canoa. Na verdade já não lembro desse detalhe muito bem. O que lembro é pelo fato de ter sido relatado por mamãe depois, algumas vezes. Mas, depois de passar o gado, papai veio nos buscar. Essa passagem nunca esqueci porque mamãe ia com muito medo, rezando, com Batista no colo, eu e Francisco de Assis sentados no banco da canoa, naturalmente com papai segurando. Essa travessia fiz outras vezes já adulta, sempre com muito medo da canoa virar. Depois que chegamos na Serra o que soubemos de notícia foi através de quem vinha de fora como se dizia. Lembro do Branco, irmão de papai, contando pra mamãe como estava na várzea, na cidade com as ruas alagadas. Pra os mais jovens aquilo era uma festa. Ainda não havia nenhuma barragem, as águas chegavam mais devagar. Existem muitas fotos da cidade alagada em 1950. Num outro momento poderei editá-las. Penso que em 50, ficamos na Serra só até o rio baixar porque mamãe estava gestante e Maria de Fátima nasceu em julho. Pelo que conheci de mamãe ela não correria o risco de ter menino na Serra, longe da possibilidade de um recurso médico caso precisasse. Quando eu e Francisco de Assis estávamos para nascer mamãe foi nos esperar na cidade. Os outros três seguintes nasceram no sítio Marquinho. Havia uma parteira competente:D. Mareza. Essa é uma outra história. Contarei depois.

domingo, 21 de outubro de 2012

O Trato com o Gado Leiteiro

     Papai era considerado um excelente vaqueiro, porque pegava o gado dentro do matagal. Com a roupa de couro, os vaqueiros se embrenhavam atrás do gado porque não podiam correr o risco de perderem os bezerros. Se uma uma vaca estivesse em vésperas de dar cria era buscada com cuidado. Uma noite, Raimundo Climaço demorou no mato. Tinha ido procurar uma das vacas que iam parir. Com medo que ele se perdesse no mato, papai subiu na porteira do curral e ficou gritando para que ele atinasse por onde deveria voltar. Já estava com muito cuidado quando Raimundo chegou com o bezerro novo na lua da cela.Esses acontecimentos alegravam o ambiente. Era hora de brindar com um café quentinho. Mamãe sempre era gentil com as pessoas que chegavam em nossa casa. Sempre tratou muito bem a todos. Quando não gostava de alguma conversa fechava a cara. Todos a respeitavam muito. Os cunhados como Tio Tonico, Tio Samuel, Tio Chico Costa, aliás toda família de papai gostava muito de mamãe. As concunhadas também. Ela era muito amiga de tia Bernadete e de tia Marieta, mas, se dava bem com todas.
          Por lembrar o trato com o gado pensei no inverno de 1951. Aquele ano foi escasso. Choveu pouco. Havia muito gado sendo tratado lá na Serra. Papai tinha construído a casinha nova. Ao lado tinha um enorme pé de Canjarana. Essa canjarana tornou-se muito importante pra nós com o passar dos anos. Naquele tempo o curral ficava ao lado da casa e a canjarana ficava no centro.  A porta da cozinha dava pra dentro do curral porque não havia dado tempo a fazer uma melhor divisão dos espaços. Na frente ainda não tinha sido colocada a porta. A noite papai colocava algumas madeiras pra evitar que entrasse algum animal. Não havia violência. Podia-se dormir de portas abertas. Naqueles dias, Pai Franco(avô materno), estava passando uma temporada por lá. Acho que também em função da falta de chuva. Tio Samuel também estava por lá cuidando de suas vacas. Numa certa tarde o pátio estava cheio de gado:vacas, toros, etc. Então dois touros começaram a brigar. E foram se aproximando da casa enquanto os homens tentavam espantá-los. Ficamos na maior aflição. Não podíamos sair por trás porque o curral estava cheio de vacas. Ainda tenho na lembrança a traseira do touro sendo empurrado pelo outro com os chifres, já bem próxima da porta da casa, pequena, cheia de gente. A gritaria foi tanta, os homens empurrando os touros, que eles se espantaram e se distanciaram. Mas, foi uma aflição e tanto! Penso que depois dessa, papai providenciou a colocação da porta.

       

Os Invernos na Serra

Outro lugar em que passávamos, todo ano, os meses chuvosos era na Chapada do Apodi que chamávamos simplesmente a Serra. No lugar Azuis. Olha que engraçado. Tenho motivos pra gostar do AZUL. Nos Azuis minha avó tinha uma pequena posse de terra onde construiu uma casinha de madeira. Íamos passar o inverno lá porque era época de engorda do gado, do nascimento dos bezerros e também porque mamãe só faltava morrer de medo das enchentes. A casinha da Serra era de forquilhas e fechada com madeira larga de pau a pique. Pra não sentir muito frio que fazia no inverno, papai mandava fazer esteiras de palha, bem grandes que colocava por dentro nas paredes do quarto. A casinha era cercada pela vegetação da chapada com um pequeno pátio na frente que dava pra uma pequena lagoa onde o gado bebia. O resto eram veredas pelo meio do mato: muito marmeleiro, pau-branco, catingueiras, sabiás, aroeiras, angicos, e tantas outras espécies de madeira. Anos depois, as brocas foram aumentando para plantios de algodão, milho, feijão, jerimum,  melancias...E os espaços ficaram mais abertos. Nos primeiros anos, no entanto era a casinha no meio do mato. Depois da lagoa, de frente pra nossa, tinha a casa dos Rodrigues. Quem passava os invernos por lá era seu Raimundo conhecido como Raimundo de Angélica e ela, a mulher dele, D. Angélica. Papai e mamãe chamavam-lhes compadre e comadre e nós pequenos também. Aos sábados papai descia pra feira em Limoeiro e comadre Angélica fazia companhia a mamãe. Papai dormia por lá na casa da mãe dele. Certo dia comadre Angélica também foi pra cidade. Anoiteceu e ela não chegou. Mamãe já estava morrendo de medo. Sem coragem de botar nosso jantar que normalmente era qualhada. Tinha muito leite. Mamãe fazia queijo e qualhada. Já estava escuro quando Angélica chegou. Mamãe dizia que era como se chegasse o anjo da guarda. Aí ela espalhava uma esteira no chão, os pratos, uma panela de qualhada, a tábua da rapadura, cuscuz e sentávamos no chão pra jantar. Não lembro bem qual era o ano. Talvez 1949. O ano de 1950 também ficamos ali no inverno. Só em 1951 foi que papai construiu outra casa lá vizinha a dos Rodrigues, porque o Branco, sobrinho e filho adotivo de mãe Dodó, casou-se e veio morar na Serra. Então papai teve que fazer outra casa pois o Branco ficava direto, de morada mesmo. Dessa primeira casa tenho ainda outras lembranças. Quando chovia muito o chão abrejava. Ficava muito frio. Então mamãe espalhava cinzas no chão que era de terra batida. Lembro também dos vaqueiros que se arranchavam lá na casa. Alguns dormiam na latada que havia na frente da casa. Outros mais de casa, como Raimundo Climaço, dormiam na sala. Um dia, bem cedinho, vi uma cobra andando na telha. gritei, aí papai olhou mas não viu.
Quando foi mais tarde, eu estava numa rede na sala, olhei pra cima e vi a cobra feita uma rodilha. Ainda bem que Vicente Grude, um Vaqueiro velho que sempre passava lá em casa, estava na hora, pegou uma vara grande e matou a cobra. Era uma Jararaca. Mamãe tinha muito medo das cobras. Ela gostava da Serra. Também era filha de boiadeiro. Viveu no meio rural. Mas, tinha muito medo de tudo. Era diferente de Maroca, irmã dela que sempre foi valente e enfrentava tudo